Páginas

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Não se pode vencer com sectarismo


Abaixo, com vídeo, estão excertos de entrevista concedida pelo clérigo xiita e político iraquiano Ayad Jamal al-Din à tevê iraquiana Al Iraqiya em outubro de 2014. Apesar de não compartilharmos de sua condescendência para com a entidade sionista "Israel", conforme expressou em outras entrevistas, consideramos muito importante sua abordagem liberal e a defesa do Estado laico.

Ayad Jamal al-Din: ISIS é apenas a ponta do iceberg. ISIS tem apoio. É um de muitos grupos. Está baseado em determinada ideologia, em determinada interpretação da religião, e em determinada fiqh [jurisprudência]. Infelizmente, o que aconteceu com os yazidis e outros no norte do Iraque está previsto na fiqh tanto de sunitas quanto de xiitas. A menos que sejamos cautelosos no uso da fiqh...

Em minha opinião, a fiqh é mais perigosa do que tecnologia nuclear. De fato, no Iraque estamos diante de duas opções: se estabeleceremos um Estado civil, com legislação laica, baseado na igualdade entre cidadãos, ou se estabeleceremos um Estado baseado na fiqh e na lei religiosa. Se estabelecermos um Estado baseado na fiqh, a divisão em um Estado xiita, um Estado sunita e um Estado curdo é inevitável. Mas, pelo contrário, poderemos estabelecer um Estado civil, no qual todos os cidadãos sejam iguais aos olhos da lei.

Como eu disse, o ISIS é um fenômeno que se estende por todo o mundo, não apenas em países muçulmanos. Mesmo aqui no EUA há mesquistas do ISIS. Há milhares de mesquitas preparando pessoas para se juntarem ao ISIS. Imaginem: jovens da Flórida se juntando às fileiras do ISIS para lutar, assim como jovens da Grã-Bretanha, Austrália, Rússia, China e outros lugares. Como um jovem universitário poderia deixar a Flórida para lutar pelo ISIS, se não tivesse sido incitado por uma mesquita?

Não estou falando de um punhado de mesquitas ou de apenas poucas pessoas. Não. Estou falando de milhares de mesquitas desse tipo, ou até mais, em todos os países do mundo- da América do Sul à do Norte, África, Ásia e Europa. Essas mesquitas estão clamando, diariamente, pelo renascimento do Califado. Há currículos escolares glorificando o Califado, dizendo que o passado dos muçulmanos é melhor do que seu presente. Eu acho que é o contrário.

Quem diz que nosso passado é melhor do que o presente? Vivemos na era da eletricidade, da internet, da televisão por satélite, da medicina moderna, telecomunicações, do conhecimento... Mesmo nossa compreensão da religião é muito melhor.

[...]

Você não pode derrotar o ISIS através do sectarismo. Apenas através do patriotismo. Se xiitas, sunitas, árabes, curdos, turcomanos, yazidis, cristãos e sabeus não conseguirem se unir sob a bandeira de um único Iraque, então o ISIS não será derrotado. É necessário estabelecer um exército nacional e uma unidade nacional, não apenas em palavras, mas na vida cotidiana. Se hastearmos as bandeiras xiitas de Hussein nos tanques, estaremos indiretamente fortalecendo o ISIS. Irão dizer que é um exército safávida, e não um iraquiano, e isso jogará os sunitas nos braços do ISIS.

[...]

Tanto a fiqh xiita quanto a sunita dizem que os yazidis devem ser mortos.

Entrevistador: Você está falando da fiqh do ISIS, é claro.

Ayad Jamal al-Din: Cristãos e judeus são considerados o Povo do Livro, e alguns incluem zoroastristas e sabeus, mas budistas, por exemplo, devem todos ser mortos. Isso de acordo tanto com a fiqh xiita quanto com a sunita. O problema está então em nossa fiqh, de modo que eu disse que, ou seguimos a fiqh -e então o ISIS estará mais ou menos certo-, ou uma legislação civil, conforme a qual os yazidis são tão cidadãos quanto os xiitas e os sunitas. É por causa disso que o ISIS diz que não inventaram nada e que estão apenas seguindo a fiqh. Os yazidis podem ou se tornar muçulmanos, ou ser vendidos no mercado de escravos. Tanto a fiqh xiita quanto a sunita estão de acordo nisso.

Devemos decidir se queremos seguir uma legislação civil, feita pelo parlamento iraquiano, ou se queremos seguir fatwas emitidas de acordo com a jurisprudência islâmica. Não podemos embelezar as coisas e dizer que o Islã é uma religião de compaixão, de paz, um mar de rosas, e que tudo está bem. Irmão, sua história islâmica é repleta de guerras, invasões... Apenas na Tunísia, um milhão de jovens foram levados como escravos para Damasco.

Entrevistador: Você não acredita que o Islã seja uma religião de compaixão e paz?

Ayad Jamal al-Din: Ele é, mas essa é uma interpretação do Islã que retrocede 1.400 anos. O Islã foi politizado e utilizado como espada. "O Corão chama e a espada protege", esse é o slogan da Irmandade Muçulmana e de todos os partidos políticos islâmicos.


*

Vídeo: "Former Iraqi MP Ayad Jamal Al-Din - A Civil State Is the Only Solution to Combat ISIS"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...