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Por que "Oceano da Paz"?


Quando se apresentaram a ele 
e disseram: Paz! respondeu-lhes:
Paz! (Corão, 51:25)

O título que escolhemos para nosso blog, "Oceano da Paz", foi em virtude dos seguintes versos do Masnavi de Jalal ad-Din Rumi. A versão é nossa, livre e descompromissada. Já neste link, estão as versões em inglês de E.H. Whinfield (1898) e de Coleman Barks.

Foste criado entre galinhas, decerto
na mesquinhez do ciscar em terra.

Tua mãe é ave marítima, todavia
e ganhar amplidões a sua natureza.

Essa nostalgia pelo oceano, que sentes
é herança da tua mãe.

Estás na terra mas não pertences a ela
tal é tua verdade e teu legado.

Abandona então a paz da terra firme
e adentra o oceano do Real Eu.

Os versos transmitem a ideia de que, apesar de estarmos aqui, não somos daqui. Nossa procedência -e destino-, por mais que estejamos alheios a isso, está situada em outras paragens. A ave, criada entre galinhas, na segurança da terra firme, no cotidiano prosaico dos animais domésticos, na verdade é uma ave marítima. Não foi feita para a vida em terra, mas sim para ganhar amplitudes. O seu lugar é o oceano -com seus riscos e perigos-, e não o pequeno cercado onde suas companheiras passam simploriamente a vida a ciscar. O chamado ancestral está lá: nas profundezas do ser. No íntimo, o oceano faz sua convocação distante. Uma hora o chamado se torna nítido. Caso o ignoremos, continuaremos a desperdiçar nossos dias melancolicamente, frustrados, abatidos, sabendo que algo -o quê?- falta, mas incapazes de discernir.

Escolhemos o "oceano", portanto, como símbolo dessa outra realidade -a real realidade, com o perdão da redundância- para a qual tudo cedo ou tarde deve desaguar. Oportuno lembrar, nesse sentido, que oceanos e mares estão presentes de forma importante nas diversas tradições, do Espírito de Deus se movendo sobre a face das águas (Gênesis, 1:2) até a água como origem da vida no planeta, no Corão -"Não vêem (...) que criamos todos os seres vivos da água?" (21:30), "Ele foi Quem criou os humanos da água" (25:54)-, antecipando em muito as modernas teorias evolucionistas.

Estamos longe, todavia, da paz aludida. Fica ela como meta e estímulo para que caminhemos, como a utopia de Eduardo Galeano.

Ella está en el horizonte -dice Fernando Birri-. Me acerco dos pasos, ella se aleja dos pasos. Camino diez pasos y el horizonte se corre diez pasos más allá. Por mucho que yo camine, nunca la alcanzaré. ¿Para que sirve la utopía? Para eso sirve: para caminar. [Eduardo Galeano, "Ventana sobre la utopía", in "Las palabras andantes"]

A paz, porém, que nada tem de utopia e, sim, de promessa (36:58; 39: 73-74 etc.) e, decerto, jamais a "paz dos cemitérios", conformista, acomodada, pusilânime.

Eis o porquê de Oceano de Paz.

O editor do blog

Joycemar Tejo, advogado no Rio de Janeiro, nascido em 1978.

Interessado por religiões desde a tenra idade (sem que tenha sido, todavia, um "filósofo de cueiros" como disse de sua infância Henry Miller). Momentos de agnosticismo, então de ateísmo para, fechando o círculo, novamente o deísmo. Interesse pelo Islã desde sempre; a shahada fez em 9 de abril de 2015, apesar de, por uma escolha pessoal, não se sentir formalmente vinculado à religião.

Militante comunista. Ao contrário dos "ortodoxos" dos dois lados, acredita que marxismo e religião não se excluem, ao contrário, são discursos que podem -e precisam!- se encontrar na jornada da emancipação humana.

Torcedor do Fluminense e pai do Glauco (in memoriam) e do Heitor. E detesta rúcula.

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