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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Mas não um estranho aos nossos olhos


Segue abaixo nossa tradução, em versos livres, para poesia de Nouri Sardar. O tema é Ali ibn Musa al-Ridha [Reza], (765-818 [?]), 8º imam do xiismo duodecimal. A reiterada insistência na palavra "estranho", no poema, é alusão ao período vivido pelo imam em Messhed [Mashhad, Mexed], em Khorasan, no Irã oriental, para onde foi levado de Medina por ordem do califa abássida Al-Ma'mun (também citado nos versos), daí ser conhecido como "O Estranho [Estrangeiro] de Khorasan". A imagem que ilustra o post é "Imam Reza" por "shia_ali", no sítio DeviantArt.

Mas não um estranho aos nossos olhos

Nouri Sardar

Outrora separado daqueles que ama,
hoje, rei de milhões de corações.
Se o pesar abate alguém,
conte a ele de Ali al-Ridha.

Chamado de estranho, mas não
um estranho aos nosso olhos.
Enquanto ele conforta,
um estranho mentiria.

Mesmo os tímidos
com ele se sentem
à vontade
-ainda que sejam estranhos.

Sua mão seca as lágrimas de qualquer
estranho.

Como a luz divina nos céus longínquos
a bandeira de Ridha
no coração
de todo estranho
brilha.

Todo estranho olha para ele- o orgulho de Bani Hashim.
Porque para qualquer estranho ele é um
amigo e pai.
Se o pesar abate alguém,
conte a ele de Ali al-Ridha.

Muito além de Medina Al-Ridha foi mantido.

Saudoso pelos vivos e pelos mortos,
mantinha-se agradado com tudo
e nenhuma alma deixava sua presença
sem que estivesse agradada.

E agradado ainda que sem família por perto
e sob as provocações de Ma'mun,
amado por tantas pessoas
como estar desagradado?

E "Ridha" [o Agradável] ele se tornou... em seu próprio nome.

A emoção nos atinge, ao pensamento
de que ele sorria mesmo sem familiar por perto.
Se o pesar abate alguém,
conte a ele de Ali al-Ridha.

Afastado da terra natal
Ridha fez Messhed como sua.
Afastado da cidade de Muhammad
em nome de seu avô conquistou Messhed.
Queriam sua morte,
de Medina a Messhed:
mas Ridha transitava entre os amantes.

Levem-no em correntes à Pérsia... acorrentem-no
até a China...!
Para onde for
uma multidão amorosa
lhe seguirá.

Se o pesar abate alguém,
conte a ele de Ali al-Ridha.

Chamado de estranho, como o maior
dos solitários
ò Ridha!, eu juro não ver um estranho
mas vejo quem é tão Amado
quanto o amor de mãe
vejo quem não deixa
pedido sem resposta

-vejo uma lenda imorredoura.

Como ondas, eles
fluem até você
estendendo mãos pedintes:
solitário ou amante,
mendigo ou rico

-se o pesar abate alguém,
conte a ele de Ali al-Ridha.

(Original- King of Hearts)

Um comentário:

  1. Para enriquecer (espero eu) o tema, fiz o seguinte comentário ao postar o poema no Facebook: "Guardadas as devidas proporções e respeitadas as evidentes diferenças, vejo muitas similitudes entre o destino da Oposição de Esquerda em sua luta contra a burocracia soviética e o do imamato e sua resistência -ainda que doravante pacífica após o martírio de Hussein (al-Sajjad retomaria a jihad, dissera, caso houvesse seguidores para tal)- ao califado. De um lado, a autoridade moral, espiritual e política, mas sem força militar ou riqueza. Do outro, o poder constituído, a-moral (eis que pragmático) e detentor dos meios materiais. Trotsky dizia que a GPU revisava Lênin não com a pena do teórico mas com a bota da força bruta; também os califas dispunham do poder físico para (re)escrever a história. Todos os imames (salvo Muhammad ibn Hasan al-Mahdi, em estado de Ocultação) foram assassinados. Que falar da sina da Oposição soviética? Mas 'quando é abatido o que não lutou só, o inimigo ainda não venceu', como diz o poema do Brecht".

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