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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Escolher agir com amor e aceitação


O texto abaixo fala de homofobia e da necessidade de diálogo entre as comunidades muçulmana e LGBTQA. Propõe, nesse sentido, uma abordagem humanista e inclusiva, que, em nossa opinião, é o verdadeiro espírito islâmico.

Escolher agir com amor e aceitação

Sumaira Mian

Muçulmanos podem ser parceiros da comunidade LGBTQ? Quando faço essa pergunta, geralmente me deparo com três tipos de respostas.

O primeiro é a de muçulmanos que olham com desprezo, tipo "como você ousa pensar isso?". São pessoas tão presas a suas visões de mundo que não apenas são inflexíveis em seus dogmas, como se recusam obstinadamente a até mesmo escutar o outro. Balançam a cabeça em reprovação, agitando o dedo e citando versículos do Corão: e nos deixam pensando em a qual dos buracos do inferno estaremos reservados...

Além desses, há aqueles que genuinamente se preocupam com a comunidade LGBTQ, mas que já estão talhados pela história do Profeta Lot e por anos de condenação à homossexualidade típica das sociedades patriarcais. Ao menos essas pessoas tentam, é verdade. Quando você lhes pergunta sobre casamentos homoafetivos, respondem: "Você pode fazer o que quiser, desde que não imponha a mim". Estão dispostos a tolerar seu "estilo de vida" gay, mas não querem ceder em sua visão religiosa, pensando "pelo menos eu não irei para o inferno".

O terceiro tipo que eu tive a oportunidade de encontrar são aqueles muçulmanos excepcionalmente liberais, com maior ou menor conhecimento de Islã- mas que estão ávidos para erguer os punhos e lutar pelos direitos das pessoas LGBTQA. Quando os ultra-religiosos tentam argumentar com eles, esses liberais torcem o nariz ridicularizando tais "fanáticos retrógrados". São pessoas que estão fartas do jeito como os religiosos tratam a comunidade LGBTQA e estão prestes a dar as costas à comunidade muçulmana. São aqueles contra os quais os ultra-religiosos advertem: aqueles destinados ao poço mais fundo dos infernos.

(A propósito, eu devo avisar o leitor que as numerosas referências ao inferno se devem ao fato de que é impossível discutir homossexualidade sem que os ardentes fogos infernais sejam mencionados).

Para manter o foco, limitei esse texto apenas a essas três categorias, mas sabemos que há uma diversidade imensa de opiniões e posicionamentos. Bem, seja você do primeiro, segundo ou terceiro grupo, espero que concordemos que está na hora da comunidade muçulmana internacional encarar o fato de que muçulmanos que se identificam como membros da comunidade LGBTQA são reiteradamente discriminados, abusados verbal e fisicamente (e às vezes QUEIMADOS até a morte) e relegados à margem da sociedade.

Por outro lado, dizer que "não existem" muçulmanos LGBTQA, ou que o tema não é importante, é simplesmente uma forma de tentar fugir do problema.

O objetivo deste texto não é atingir um consenso sobre se a homossexualidade é proibida ou permitida no Islã. Eu não sou especialista em legislação islâmica nem tenho anos de estudo para isso. Contudo, enquanto pessoa consciente e auto-determinada, eu posso colocar questões para nossa comunidade muçulmana.

Você já foi capaz de estabelecer um espaço onde seu amigo gay religioso pudesse estar com você? Ou onde seu amigo ex-muçulmano, lésbica ou gay, pudesse falar sobre como se sentia desprezado e humilhado dentro da comunidade muçulmana? Você já estendeu a mão para dar amor e apoio a essas pessoas? Seus lugares de oração estão abertos para amigos e familiares de gênero não-conforme? Se você respondeu "não" a essas questões, talvez seja hora de fazer uma auto-reflexão.

Criar espaços seguros para amigos LGBTQA, muçulmanos ou não, e garantir a eles a oportunidade de contar suas histórias, NÃO significa que você apóie suas ações- significa, apenas, que ao invés de agir de forma agressiva e divisionista, você escolheu agir com amor e aceitação. Ou seja, devemos permitir que as pessoas saiam da escurião de seus armários solitários, onde estão marginalizadas, e venham para um ambiente de inclusão onde a sexualidade de alguém não determina se Deus lhe ama ou odeia.

Eu compreendo se você não acredita que a homossexualidade seja permitida no Islã- e você tem o direito de ter suas convicções, mas todos nós devemos concordar que o Islã coloca mais ênfase em amar as pessoas do que em torná-las "castas". Com certeza, ninguém sabe o que se passa no coração dos indivíduos.

No fim do dia, Deus não perguntará a NÓS porque nossos amigos LGBTQA escolheram viver a vida DELES como viveram. Contudo, seremos perguntados se NÓS tratamos nossos amigos muçulmanos com amor e carinho. Assim, eu peço: ao invés de ameaças de inferno à mera menção da comunidade LGBTQA, que passemos a amar as pessoas e que deixemos o julgamento para Deus.


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