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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Reflexões sobre a lei islâmica


O texto abaixo é da intelectual salvadorenha Laura Guzmán. Traz opiniões sobre a Sharia e o integrismo (definido por Garaudy como "a pretensão de possuir a verdade absoluta"). A imagem que ilustra o post é um detalhe de "Interior of a school in Cairo" por John Frederick Lewis (1804-1876), podendo ser vista na íntegra aqui.

Três reflexões sobre a lei islâmica

Laura Guzmán

O Islã é uma palavra que encerra muitos conceitos: a tranquilidade e a boa convivência, o bem-estar corporal e espiritual, a salvação da matéria e do espírito. Todos esses consistem em conceitos e aspectos da existência humana no processo de busca pela perfeição ao longo da vida.

A Sharia, ou caminho

Quando conheci o significado de Sharia como "caminho", vêm à minha mente outras filosofias orientais como o Budismo, o nobre caminho; o Taoísmo, o caminho da natureza; filosofias que guiam a forma pela qual o homem deve se comportar em sua vida. Acredito que têm muito em comum, principalmente na prática pessoal diária que mostra um abismo entre a cultura oriental e a ocidental, o espiritual e o material. Parece-me que nas culturas orientais não é o materialismo o predominante, entendendo isso -o materialismo- como o consumismo, a libertinagem e todo o negativo que chega através da transculturação. As pessoas possuem uma maior abertura espiritual que lhes faz ter uma visão diferente da vida. Já no Ocidente se cultivam as religiões formalmente ditas, que já em seu conceito se limitam a ser crenças e dogmas em torno do que se considera divino, virtudes dos praticantes de doutrinas e indivíduos privilegiados que rendem culto a Deus. O homem ocidental tem dias e horas específicos para praticar sua crença religiosa. O aspecto espiritual, moral e político se resolve em instituições separadas de sua vida diária, e por consequência o homem também vive em apartado da complexidade da sociedade. A partir dessas práticas se inicia o grande conflito entre Oriente e Ocidente. No Islã a shahada ou oração diária nos faz ter Deus presente, o salat torna possível a comunhão entre irmãos e o tempo do saum [sawm, jejum, no caso durante o Ramadã, N.T.] para mim é um tempo de reflexão- dos cincos pilares, esses são, em minha opinião, os que mais impactam a vida do crente.

A divinização dos profetas

No Islã se proíbe a utilização de imagens ou ídolos como deidade salvífica universal. Não se louvava Muhammad nem se rezava para ele. Não existe a possibilidade de tornar o profeta Muhammad em um elo de ligação entre o homem e Deus; Muhammad não foi divinizado para cumprir interesses terrenos.

A Sharia e a Fiqh [jurisprudência]

Os temas espirituais e práticos da vida do homem estão atendidos no Islã: no Corão são encontrados os princípios morais e religiosos para responder às necessidade da sociedade nesses campos. A Fiqh, a jurisprudência para cobrir aspectos práticos da vida: as relações familiares, o matrimônio, divórcio, as caridades obrigatórias, transações de compra e venda, herança, políticas de paz e defesa. A jurisprudência nasce da interpretação do Corão e da tradição do Profeta (Sunna).

A prática da interpretação, legislação e jurisprudência que é realizada pelos clérigos é considerada por alguns intelectuais como uma prática integrista. Haja vista que temas como a defesa, a paz e outros correspondem à vida prática, se considera que ficaram parados no tempo, contradizendo assim a dinâmica da História que requer uma interpretação ágil com participação de outros setores da sociedade fora dos círculos dos sábios. Eu opinaria que os integrismos têm uma razão de ser, sendo que cada integrismo tem suas próprias origens e matizes, e que existem integrismos em diversas elaborações do pensamento, como as religiões, ideologias, políticas científicas e educativas. O Capitalismo, o Islã, o Cristianismo, o Comunismo, o Fascismo, o Socialismo etc. O integrismo não é um patrimônio "exclusivo" de nenhum deles, e tampouco se pode dizer que um Estado é prisioneiro de determinado integrismo. No caso do Irã, no que é considerado um integrismo islâmico, em minha opinião eu penso que sua teocracia se estabeleceu como forma de proteger sua cultura e seu modelo socioeconômico, mesmo que alguns países os considerem obsoletos e sem rumo. Vinte e cinco anos depois da Revolução Islâmica no país, tem havido muitos experimentos implementados pelos pseudo-civilizadores "modernistas" pelo mundo, com a utilização por exemplo do isolamento internacional para buscar a destruição de culturas e extração de bens estratégicos.

É um exercício intelectual interessante meditar sobre quem e por que é integrista, pois muitas vezes intelectualizamos muito e perdemos de vista a realidade, e assim sem perceber acabamos adotando um pensamento aparentemente "neutro" achando que com essa atitude melhoraremos o mundo.

4 comentários:

  1. Assalamu Alaikum Irmão.....Eu ainda nem li o artigo...kkkkkkkkk..Más quando vi a foto eu não consegui segurar, simplesmente MARAVILHOSA....Agora, ao texto meu caro. E para falar em Roger Garaudy estou terminando de ler o Capítulo 3 ( Socialismo e Visão do Mundo ) do livro " Apelo aos Vivos "...Rapaz, estou começando a me interessar por Socialismo de novo...kkkkkkkk....Forte Abraço Irmão....Parabéns pelo blog.. Não pare heim.

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  2. Quanto ao artigo, achei muito enxuto, direto e o mais claro e simples possível e deve ter lido livros ou artigos do Roger Garaudy. Parece muito ! Abraço !

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  3. Waleikum assalam, meu irmão. Tenho gostado de textos mais concisos, afinal, como diz Renato Russo há quem fale demais "por não ter nada a dizer". Mas oportunamente publicaremos estudos mais extensos. Quanto à imagem, é linda mesmo. No parágrafo introdutório tem o link para seu tamanho integral, fantástica a riqueza de detalhes. Inclusive a cara de assombro dos alunos! haha

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  4. Salam Aleikum
    Mashallah! Gostei do artigo por ser direto e bem articulado!

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