O trecho a seguir é de "Os místicos do Islã", de Reynold Nicholson, na tradução de Julia Vidili (Madras Editora, 2003). A obra, de 1914, pode ser lida em inglês aqui, e tem como tema o sufismo.
O fragmento que reproduzimos abaixo fala da ambiguidade na poesia sufi. A imagem que ilustra o post é o muezzin e sua chamada para a oração (adhan, azan), pelo francês Jean-Léon Gérôme (1866).
Quem quer que conheça, mesmo que pouco, a poesia mística do Islã deve ter notado que a aspiração da alma a Deus é expressa, via de regra, quase nos mesmos termos que poderiam ter sido usados por um Anacreonte ou Herrick oriental. A semelhança, de fato, é frequentemente tanta que, a menos que tenhamos alguma pista sobre a intenção do poeta, ficamos em dúvida quanto ao significado.
Em alguns casos, talvez a ambiguidade sirva para um fim artístico, como nas odes de Hafiz, mas, mesmo quando o poeta não está deliberadamente mantendo seus leitores suspensos entre o céu e a terra, é bastante fácil confundir um hino místico com uma canção de beber ou uma serenata. Ibn al-Arabi, o maior teósofo que os árabes produziram, viu-se obrigado a escrever um comentário para alguns de seus poemas, para refutar a escandalosa acusação de que eles eram escritos para celebrar os encantos de sua amante. Eis algumas linhas:
"Oh, sua beleza- a terna moça! Seu brilho ilumina como lâmpadas em uma viagem no escuro.
Ela é uma pérola escondida em uma concha de cabelo negro como azeviche,
Uma pérola na qual o Pensamento mergulha e fica para sempre nas profundezas
Desse oceano.
Quem a vê pensa que é uma gazela nas dunas,
Por seu pescoço formoso e a delicadeza de seus gestos".
Já se disse que os Sufis inventaram esse estilo figurativo como uma máscara para mistérios que eles desejavam manter secretos.
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