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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Educar é dar exemplo, não exigir obediência


Vai abaixo uma bela história de respeito e tolerância. Fonte ao final.

Educar é dar exemplo, não exigir obediência

Zain Rizvi

"Você quer apanhar, Jafar?", rosnou o professor da nossa madrassa [escola], agitando sobre a cabeça uma régua de quase um metro de comprimento.

"Não, senhor", respondeu o aluno assustado.

"Então pare de falar e comece a ler", grunhiu o Lorde Sith de salwar [roupa típica no continente asiático].

Para nós que crescemos em lares regionalistas tradicionais, a ameaça de violência como instrumento de obediência não chega a ser exatamente uma novidade. Contudo, é altamente irônico que enviemos nossos filhos para aprender sobre uma religião que traz valores como perdão, compaixão e paz, e que isso seja ensinado a eles através do medo, humilhação e chantagem. Se constantemente nos lembram de que não somos animais, por que somos ensinados com o método da cenoura?

Não é surpresa, portanto, que eu tenha parado de ir à madrassa e que minha mãe começasse a pensar na ideia de encontrar um professor particular para nos dar educação islâmica em casa. Ela encontrou alguém, um imam sunita, que tinha sido recomendado por um amigo da família. Quando perguntavam a ela porque escolhera um imam sunita para ensinar Islã aos seus filhos xiitas, sua resposta era interessante. Ela explicava que as controvérsias na jurisprudência e na história islâmica eram irrelevantes, no que diz respeito a ensinar o Corão para crianças, e, ainda que nisso possa haver discussão teológica, jurisprudencial e histórica, seria positivo por fortalecer o entendimento de nossa fé. Isso além de tudo nos ajudaria a respeitar a pluralidade de opiniões dentro do discurso religioso ao invés de desenvolver intolerância.

E assim cá estamos, anos depois, tendo completado os estudos de Corão, aprendido a rezar de acordo com a jurisprudência xiita e adquirido uma boa formação no Islã para poder seguir adiante. Eu sempre serei grato ao meu professor por ter me dado a base da minha educação islâmica- mas sou ainda mais grato pelo seu exemplo. Pois ele me ensinou sobre humanidade.

Ele me mostrou que sectarismo é arrogância cega, que polui a sociedade como um esgoto. Seu entusiasmo me ensinou que o Islã é um rio, e que o sunismo e o xiismo são seus afluentes. Seus debates comigo (sobre assuntos tão diversos quanto a vida após a morte ou o críquete paquistanês) revelavam uma mente aberta, que mostrava que a educação religiosa se trata mais de dar exemplo do que de exigir obediência.

Quando uma criança é inspirada por alguém, a influência dessa pessoa continua pela vida, e isso também vale para a religião. Os detratores costumam dizer que o Islã é uma religião que se espalhou pela espada, mas a verdade é que um certo homem não fez seus primeiros seguidores por causa de uma reputação terrível como guerreiro. Pelo contrário, foi pela sua natureza justa, de mercador, e então pela natureza da mensagem que trazia- a de um movimento rumo à justiça social, contra a escravidão, o racismo e a misoginia.

O modo como tratamos os outros é o melhor testemunho da fé. Meu imam sunita me deu fé no Islã, mas sobretudo me deu fé nos homens. A humanidade é como uma criança inocente brincando maravilhada no jardim, sem a devida compreensão das coisas. Essa sensação de espanto, diante do mundo, que a criança possui, é a mesma de todos nós. E não há limite para o potencial da humanidade, enquanto estivermos em conexão.

Este é o sentido da palavra "Deus".

Somos um.

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