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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Os "exagerados"


Publicamos agora o verbete "Ghulat", da Wikipedia, vertido para o português por nós. Trata-se do termo utilizado para abarcar correntes e seitas do Islã, em particular no ramo xiita, que exorbitam, "extrapolam", em determinados quesitos doutrinários e teológicos, o que lhes valia a pecha de heresia. A maioria desses grupos perdeu-se ao longo dos séculos. Inauguramos com isso a categoria "Curiosidades" no blog, com assuntos de interesse meramente histórico, peculiares ou apenas pitorescos.

A imagem que ilustra o post, sem relação com o tema, é um detalhe de "Santo Estevão consagrado diácono" (1511-14?), pelo italiano Vittore Carpaccio (1450-1525). Neste link a tela pode ser vista na íntegra.

Ghulat, literalmente "exageradores", no singular ghali, é o termo utilizado na teologia do Islã xiita para descrever alguns grupos muçulmanos minoritários, que ou atribuem características divinas a figuras da história islâmica (geralmente um membro dos Ahlul Bayt [a Casa Profética, a progênie de Muhammad]), ou que mantêm crenças consideradas desviadas pelas correntes xiitas principais. Em épocas posteriores, essa expressão foi utilizada para designar qualquer grupo xiita não aceito pelo Zaydismo, pelo Xiismo Duodecimal e, às vezes, pelos ismailitas.

O termo deriva da ideia de que é "exagerado" atribuir tanta importância ou veneração a figuras religiosas.

História

Tradicionalmente, o primeiro dos ghulat foi Abdullah ibn Sana, que negou que Ali tivesse morrido e previu seu retorno (raj'a), o que foi considerado uma forma de ghuluww [excesso, exagero]. Algumas crenças originariamente consideradas desviadas acabaram se tornando majoritárias. Isso inclui a noção da Ocultação, isto é, a ausência do Imam que retornará para realizar a justiça como Mahdi; aparentemente, tal noção apareceu a princípio entre os ghulat. Outras posições que no início foram consideradas ghuluww são a condenação pública (sabb, insulto) de Abu Bakr e Umar, por terem usurpado os direitos de Ali como sucessor de Muhammad, ou ainda a noção de que os verdadeiros Imames são infalíveis (ma'sum).

Posteriormente, os grupos xiitas principais, em especial o Duodecimal, classificaram três tipos de atos como que sendo de "extremismo" ou "exagero" (i.e., ghuluww). Tais atos de heresia seriam: afirmar que Deus às vezes habita o corpo dos Imames (hulul, crença na encarnação divina), a crença na metempsicose (tanasukh, a transmigração da alma) e considerar que a lei islâmica não é obrigatória (ibaha, antinomianismo).


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