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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Amar a beleza é pecado, diz meu inimigo


Traduzimos agora um poema de Imad ad-Din Nasimi, nascido no atual Azerbaijão em meados do século XIV e executado por heresia pelas autoridades da época, por ser adepto da doutrina sufi do hurufismo. A forma da morte foi brutal: o poeta místico teria sido esfolado vivo. Em algumas fontes, Nasimi (ou Nesimi; não confundir com Kul Nesimi, poeta otomano do século XVII) recebe o título de Sayyd, o que indica que seria descendente do Profeta Muhammad.

A nossa versão foi feita com base na tradução para língua inglesa de Latif Bolat and Jennifer Ferraro, e foi extraída aqui, onde se pode ver também a versão em turco.

E daí?

Imad ad-Din Nasimi

Eu vesti o manto da vergonha
e a honra e a virtude despedacei em uma pedra.
     E daí?

Às vezes me elevo para olhar o universo de cima,
e me rebaixo fundo, às vezes, para me perder de amor.
     E daí?

Às vezes estudo o sentido da vida nos livros sagrados,
outras vezes, vou à taverna me embriagar.
     E daí?

Às vezes entro no jardim para pegar rosas para meu amor,
rosas que plantei, rosas que colhi.
     E daí?

O vinho desse amor é pecado, diz o ortodoxo.
Encho e bebo o copo, eis que o pecado é meu.
     E daí?

O devoto curva-se nas mesquitas,
enquanto eu me curvo bem de perto às portas do Amado.
     E daí?

Amar a beleza é pecado, diz meu inimigo.
Pois que amo, com alegria aceito o preço.
     E daí?

Perguntam a Nesimi:
-Aonde vão você e o amor?
-Para onde quer que iremos,
é meu o amor.
.
     E daí?

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